terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Tupi Moderno OS PREFIXOS DO DIALETO TEMBÉ-TÉNÊTÉHAR

A+ (Mont. 505 ahechag; yo veo)
Eu; pron. pessoal sujeito do verbo
a-étzak = eu vejo

É+ (Mont. 14 emboe; enseña tu)
Pref. da 2ª p. f. imperativa
É-zur(i) tzê = venha cá
É´u é-ho = vai comer
É-kêr é-ho = boa noite (vai dormir; vai e durma)

Érê+ (B.C. 123 ere; tu)
Tu; pron. pessoal sujeito do verbo
Érê-tzak = tu vês.

Hê+ (Rest. 385 che; mi, mis; yo)
Eu; sujeito v. predicativo
Meu, minha, meus, minhas; adj. posssessivo
Hê-ruwĭtzãng = estou com frio
He-wĭrapar = meu arco.

I+ (B.C. 169 i; delle, della, delles, dellas)
Ele(s), ela(s); sujeito v. predicativo
Seu, sua, seus, suas
i-katu = ele (ela) é bom
i-wĭrapar = o arco dele (relativo).

Ihê+ (Mont. 330 yché; yo)
Eu; pron. pessoal sujeito isolado ou de ênfase
Ihê a-zapo kwêy = sou eu quem fez isto
É-rur ihê-we = me traz.

Ma´ê+ (B.C. 223 mbaê; verdadeiro prefixo para formar verbos absolutos e substantivos abstratos de modo análogo a poro); entra em composição para indicar animal ou coisa indefinidos, corresponde a puru para seres humanos indeterminados.
Ma´ê-zuka = matar caça ma´ê-ĭwa = uma fruta
Puru-zuka = matar gente ma´ê-putĭr = uma flor
Usa-se também como primeiro termo dos advérbios à forma interrogativa:
Ma´ê-méhé? = quando?
Ma´ê-pé? = onde?
Ma´ê-nũngar? = como?
Ma´ê-wi? = de onde?
Ma´ê-pa? = o quê? (H.F.)
Ma´ê-ramo? = então, para quê?
Ma´ê-réhé? = porque, por que motivo?
Ma´ê-té? = que, qual?

Mo+ (B.C. 271 mo; mbo) – idem mu
Pref. verbal ou adj. para formar o factitivo
Katu (bom); mu-katu (idem:mõngatu) = aprimorar
Mémêk (mole); mu-mémêk = amolecer, derreter
kĭze (estar com medo); mu-kĭze (idem: mõngiyê) = amedrontar, meter medo
wôk (rachar-se); mo-wôk = rachar, rasgar
ko (estar) = mo-ĭngo = por, colocar.

Mo+ (B.C. 32 amo; alguém, algum, um, uma etc.)
Pref. Pronominal; quem (em composição)
Mo-réhé-té? = para quem, por causa de quem?
Mo-rupi-té? = com quem, em companhia de quem?
Mo-té ko? = quem é (este)?

Mo+ (B.C. 215 mamo – ma, interr. mô – lá longe, onde)
Adv. de lugar, entra em composição nos esquemas infra
Mo-pé-té (mo-pé)? = onde, em que lugar?
Mo-rupi-té (mo-rupi)? = por onde?
Mo-wi-té? = de onde?
Mo-wi-té turi-ra´ê? = de onde será que ele vem?

Na+ (B.C. 297; pref. negat. geral de modo indicativo)
Pref. do verbo à forma negativa, exceto para o imperativo
(idem n – quando o pron. começar por vogal)
na-reko-i = não tenho
nu-iko-i = não está
na-hêta-i = não há, não tem
na-maran-i = não faz mal
na-ruzar(i) = nem ligo, não me importa
na-katu-i = não presta.

Nê+ (B.C. pág. 301 ndé; pron. te, ti, de ti etc.)
Pron. pessoal; tu
Adj. Possessivo; teu, tua, teus, tuas
Nê-ma´ê-ahĭ-ra´ê? = (tu) estás doente?
Nê-rapĭy = tua casa

Nu+ pref. verbal indicando acompanhamento
Nu-ku´êm = passar a noite com
Ku´êm = amanhecer
Hêm = sair nu-hêm = tirar, retirar
Wéhêm = chegar nu-wéhêm = chegar com

O+ (B.C. 339; pron. elle, ella, elles, ellas)
Pron. Sujeito 3ª pessoa; ele, ela; eles, elas (id, u-)
O´o = ele remenda
u-kêr = ele (ela) está dormindo.

Opo+ (B.C. 362 opo; pron. pac. da 2ª pes. do pl., quando o 1º é agente)
Pron. da 2ª pessoa do plural caso direto v. ativo: vós, vocês
Opo-ayhu = amo-vos

Pé+ (B.C. 363 pé; vós)
Vós, vocês; sujeito do verbo – adj. poss., vosso(s), vossa(s)
Pé-ho pé-aê aê = ide cada um (de vocês) do seu lado.

Pu+ (var. de opo)
Pron. 2ª pess. pl. caso dir., forma apocopada
Ihê a-pu-étzak = eu vejo vocês.

Puru+ (B.C. poro)
A gente (opõe-se a ma´ê = coisa ou animal)
u-puru-zuka = ele matou alguém
u-ma´ê-zuka = ele matou uma caça
puru-amutar(é)´ ĭm-(h)aw = inimizade, antipatia.

Ru+ (var. de nu-); de iru: em companhia de
Pref. verbal indicando acompanhamento
Pémi u-mimĭr u-éru-kêr = Pembi dorme com a filha.

U+ (pron. p. Suj. Verbal da 3ª pes. Sing. e pl.; adj. poss.)
Ele(s), ela(s); seu(s), sua(s)
u-kêr-a´u-a´u = ele (ela) está fingindo dormir
u-wĭrapar = o arco dele (abs.)

Urê+ (pron. p. suj. 1ª pes. pl. exclusivo; adj. poss. Id.)
Nós, nosso(s), nossa(s)
Nazäwê urê-zapo = nós fazemos assim
Urê-kwêr = nação, tribo
Hê-urêkwêr = minha tribo.

Wa+ (pron. p. e adj. poss. 3ª pes. pl.)
Ele, ela; deles, delas.

Za+ (B.C. 561 ya; pron. Ag. De 1ª pes. Incl. Nós todos)
Forma apocopada de zanê; suj. v. 1ª pés. Pl. inclusivo nós (todos), com verbo de ação
Pahar za-ha = vamos rápido.

Zanê+ (B.C. 569 yandê; pron. pessoal 1ª pes. pl. inclusivo; nós)
Pron. p. suj. v. predicativo 1ª pes. Pl. inclusivo; nós
Adj. poss. correspondente; nosso(s), nossa(s)
Zanê-ku´êm = bom dia (amanhecemos)
Zanê mukwi-amo u-mu´i(a)-ram zépé´aw = um de nós vai rachar a lenha.

Zé+ (B.C. 575 ye; pro. refl. é empregado em v. comp. cujo tema não é usado simples)
pref. verbal para a forma de reciprocidade (se ipsum)
amǐk = ser apertado, enforcado, engasgado
zé-amǐk = engasgar-se, enforcar-se, perder a respiração
kwaharêr i-zê-amǐa-amǐa´w-méhé -pê a-pǐhǐk = tirei da água um menino quando estava se afogando.

Zo+ (id. zu-)
Pref. verbal parecido ao precedente, senão que dá uma noção atributiva ou dativa mais forte que se reverte seja ao sujeito, seja ao objeto.
A-zu-kwên kwéhé ko-taw-a´i = já passei por esta aldeia
A-zu-pin hê-réha-ita-kân-raw = depilo-me as sobrancelhas.


*Nesta grafia o "ê" é aberto e o "é " é fechado / o ǐ tem o som do y da grafia de Lemos Barbosa e Eduardo Navarro/ o w tem som de û.

Bibliografia: Simbolismo Verbal Primitivo, Max H. Boudin, 1963

O TEMPO NOMINAL EM TUPI

“Todo substantivo pode apresentar noção de temporalidade, embora difusa, por meio de sufixos indicando o passado, o futuro ou o sentido opcional-restritivo.”

Ram(-a) – futuro promissor, o que vai ser [também são usadas as formas –ûam-a e am-a]
Pûer(-a) – passado, velho, o que foi [também são usadas as formas -ûer-a e -er-a]
Rambûer(-a) – Ram + Pûer, o que devia ser e não foi ou Pûeram(-a), mas esta última forma é rara.
Essas partículas em composição recebem o sufixo –A (este é um sufixo substantivador)

Exemplos:
Akang - cabeça
Akang-ûer - o que foi cabeça, crânio
Ybyrá - árvore
Ybyrá-ram-a – o que vai ser árvore
Taba – aldeia
Ta´-rambûera – o que ia ser aldeia e não foi (foi destruída antes que virasse aldeia)

Como vimos o verbo tupi não indica tempo, por exemplo a-´ytab (ytab = nadar) pode significar eu nado, eu nadei, eu nadarei, podendo a temporalidade do substantivo indicar o tempo do verbo.


Ex: a-î-monhang xe ok´-ûera - fiz a minha casa (que foi destruída, não existe mais)
a-î-monhang xe ok´ama – Faço minha casa (que ainda não está pronta)

TEMPO, ANO E PARTES DO MESMO ANO

(Observação: Foi mantido aqui o sistema ortográfico original do autor, sendo por isso diferente do sistema utilizado aqui até então.)

TEMPO - ára
ANO - akajú, seichú, segundo o Catecismo (O designativo akajú é peculiar do tupi do norte do Brasil; no sul eram correntes os termos seichú e roý, como se vê, pelo V.L.B. seichú (de eichú) era o nome dado à constelação das Plêiades e a certas abelhas negras).
MÊS - jacy
DIA - ára
NOITE - pytúna
ALTA NOITE - pisaié, 1. pisaié katú (Deve ser pysaié ou pysajé. O V.L.B dá: pysajé-katu, vigia segunda da noite)
MEIA-NOITE - pysaié katú
HOJE, AGORA - koý, 1. koýr
HOJE,isto é,NESTA MANHÃ - korí koémereme (Pode ser korí koéme, manhã do dia, como vem no V.L.B.)
ESTA TARDE - korí karúk-me
ESTA NOITE - korí pytúnime
AMANHÃ - oirandé (em F.- oirã e oirandé)
DEPOIS DE AMANHÃ - amó oirandé
ONTEM - koesé
ANTE-ONTEM - koesé-koesé
TRÁS-ANTE-ONTEM - amó koesé-koesé
AMANHÃ PELA MANHÃ - oirandé koéma (F.- oirandé koéme)
PELA MANHÃ - koéma (F.- koéme) 19-Á TARDE - karúk-me, 1.karúk-reme (F.-karú-kume)
CADA DIA - arébo, 1.araiabé (V.L.B. arajabiõ, arébo, areboñé)
CADA NOITE - pysarébo (F.- pysarébo, cada noite, toda a noite)
DE DIA - áribo (V.L.B.-áribo, ariboé, aribobé)
DE TARDE - karúk-me
DE NOITE - pytúnime (F.-pytúnume)
NUNCA - aáni (F.- aán, aáni, aaniñé, aanirakó)
PARA SEMPRE - aujeramañé
SEMPRE - ñañeñé, 1. jepí, continuamente (F.- iepí, sempre, cada dia)
SEMPRE, da mesma maneira ou sorte - memé
ANTIGAMENTE - koesé ñey~, 1. erimbaé, 1. akoéme, 1.akoérame (F.- koeséñeím)
LOGO, DEPRESSA - koritei~ 1.esapeiá (deve ser esapyá)
SEMPRE, perpetuamente, enquanto o mundo durar - koára pukuí (F.- "kó ára pukuí, sempre, perpetuamente ou, conforme a própria significação, enquanto for comprido esse mundo, enquanto o mundo durar")
QUANDO? - erimbaépe? 1. maiaverametaé? (este último interrogativo é curioso pela formação e pela grafia, nitidamente guaranis)


Abreviaturas utilizadas: V.L.B. - Vocabulário da Língua Brasílica
F. - Pe. Luiz Figueira, Arte de Gramática da Língua Brasílica. Rio, 1880

Numerais

Em tupi antigo não existe numeração acima de quatro,para expressar unidades acima utilizam-se alguns recursos como xe pó (minhas mãos) para cinco e etc., a numeração do Tupi Antigo é a seguinte:
1-oîepé
2-mokõî
3-mosapyr
4-irundyk

Os numerais ordinais são:
1º-ypy
2º-mokõîa
3-mosapyra
4-irundyka

Notas Gramaticais: Os números cardinais podem anteceder ou vir após o nome que se referem:
mosapyr îakaré a-îuká ou îakaré mosapyr a-îuká (matei três jacarés)
Os numerais ordinais sempre vêmn após o nome a que se referem:
Tupã o-î-monhang abá ypy (Deus fez primeiro o homem)

Para expressar quantidades acima de quatro podem ser utilizados alguns recursos como esses propostos abaixo:
5-Xe pó (minha mão)
6-Xe pó oîepé (minha mão e um)
7-Xe pó mokõî (minha mão e dois)
8-Xe pó mosapyr (minha mão e três)
9-Xe pó irundyk (minha mão e quatro)
10-Mokõî pó (duas mãos)

Bibliografia: Pe. A. Lemos Barbosa - Curso de Tupi Antigo - Livraria São José, Rio de Janeiro.
Luiz Caldas Tibiriçá - Dicionário tupi português - Traço Editora, 1984

Segunda conjugação (verbos Adjetivos)

Os verbos da Segunda conjugação incluem os verbos predicativos, qualificativos ou adjetival, implica uma noção qualitativa do ser, ou melhor, uma noção de estado em que nossas línguas soe ser traduzida pelo verbo ser ou estar, acrescido da noção qualitativa à qual nos referimos, outros são adjetivos tupis que em português são traduzidos por verbos. São verbos portanto conjugados como adjetivos.

Ex: Ma´enduar – lembrar -se

Xe ma´enduar

Nde ma´enduar

I ma´enduar

Oré ma´enduar

Îandé ma´enduar

Pe ma´enduar

I ma´enduar

A forma negativa forma-se da mesma maneira que nos verbos da primeira conjugação:

Nda xe ma´enduar-i

Na nde ma´enduar-i

Nd´i ma´enduar-i

Nd´oré ma´enduar-i

Nd´îandé ma´enduar-i
Nda pe ma´enduar-i

Nd´i ma´enduar-i

O verbo acima lembrar é na verdade em tupi um adjetivo, que não possui tradução para o português, sendo literalmente como registra o Prof. Eduardo Navarro como: Eu sou lembrante, assim como o verbo Pytu (respirar) seria algo como ser respirante.

Observações: 1- Os adjetivos Tupis que são traduzidos por verbos geralmente vêm indicado nos vocabulários da seguinte forma:

Ma´enduar (Xe) - Lembrar-se

Apûan (Xe) – Apressar-se; ser ligeiro

O Pronome (Xe) entre parênteses indica que o verbo deve ser conjugado como um adjetivo e não com os prefixos –a, -ere-, -o, -îa, -oro, etc. como nos verbos da primeira conjugação.

2- Antes do pronome Nde cai o D sendo a negativa sempre formada pela partícula Na, exemplo:

Na nde porang-i = Tu não és bonito


Mais alguns exemplos de verbos predicativos:

Porang – bonito, ser bonito Pytu (Xe) – respirar Katu – bom, estar bem

Apûan (Xe) – Apressar-se; ser ligeiro

Bibliografia: Simbolismo Verbal Primitivo, Max H. Boudin, 1963

Método Moderno de Tupi Antigo, Eduardo de Almeida Navarro, Editora Vozes, 2ª edição, 1999

Primeira Conjugação (verbos de Ação)

Há em todas as línguas do tronco tupi-guarani duas conjugações verbais:

a) A primeira conjugação em que estão os verbos de ação, ex: andar, correr, sentar.

b) Segunda conjugação em que estão os verbos predicativos, adjetivos ou qualificativos, que implicam uma noção de ser, exemplo: estar bem, ser bonito, estar doente.

A Primeira Conjugação
Tomarei como exemplo o verbo nhe´eng (falar):

(Ixé) a-nhe´eng = eu falo

(Endé) ere-nhe´eng = tu falas

(A´e) o-nhe´eng = ele fala, falou

(Îandé) îa-nhe´eng = nós falamos (inclusivo)

(Oré) oro-nhe´eng = nós falamos (exclusivo)

(Pe´ẽ) pe-nhe´eng = vós falais

(A´e) o-nhe´eng = eles falam

Infinitivo: nhe´eng-a

A conjugação negativa do modo indicativo dá-se com a colocação antes do verbo da partícula Nda (ou Na) antes dos verbo (Nd´ ou N´ antes de prefixos verbais iniciados por vogais) e após o verbo o sufixo -I.

Nd´a-nhe´eng-i = eu não falo

Nd´ere-nhe´eng-i = tu não falas

Nd´o-nhe´eng-i = ele não fala

Nd´îa-nhe´eng-i = nós não falamos (inclusivo)

Nd´oro-nhe´eng-i = nós não falamos (exclusivo)

Nda pe-nhe´eng-i = vós não falais

Nd´o-nhe´eng-i = eles não falam

Observações: 1- O sufixo I depois de verbo terminado em Î junta-se a ele não sendo portanto grafado.

Nd´a-kaî – Não queimei
2 – O –I quando vem após verbo terminado em vogal forma ditongo, passando a ser Î.

Nd´a-îuká-î – Eu não mato
As formas pronominais entre parênteses são facultativas e podem ser usadas para dar ênfase à ação verbal, utilizados isolados ou para responder a alguma pergunta. Ex:

Aba-pe o-só Nhoesembé-pe? Ixé (Quem foi para Nhoesembé? Eu.)

Os prefixos verbais a-, ere-, o-, îa-, oro-, pe- e o-, são indispensáveis e indicam em que pessoa está conjugada o verbo. Ao contrário do que ocorre no português o verbo tupi conjuga-se através das partículas que o acompanham e não através da terminação verbal.

Oro é utilizado quando a ação verbal não inclui a pessoa ou as pessoas com quem se fala. Nos casos em que a pessoa ou pessoas estão incluídos usa-se îa-.

O infinitivo dos verbos Tupi terminam sempre por vogal, caso o tema verbal (forma como é conjugado) seja terminado em consoante como é o caso, por exemplo, dos verbos: nhe´eng(falar), sem(sair), ker(dormir), etc. deve-se adicionar a vogal –a ao tema verbal para que seja formado o infinitivo:

Tema Infinitivo

Nhe´eng Nhe´enga = falar

Ker Kera = dormir

Nhan Nhana = correr

Nos verbos com tema verbal terminado em vogal o infinitivo é o próprio tema verbal, ex:

Tema Infinitivo

Puka Puka = rir
Gûatá Gûatá = andar

Porabyky Porabyky = trabalhar

O infinitivo dos verbos Tupi podem funcionar também como substantivos, exemplo:

Nhe´enga = falar, língua Gûatá = caminhar, caminhada

TEMPOS VEBAIS
No Tupi não há tempos verbais da maneira que o conhecemos estando incluído no Presente do Indicativo portanto os quatro tempos verbais, sendo mais comum a tradução pelo pretérito perfeito:
“O Preſente do Indicatiuo , poſto que inclue em
ſi os quatro tempos, contudo mais propriamẽte
ſignifica o pretetito perfeito.” –
Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil, Pe. José de Anchieta
Caso haja necessidade de especificar a que tempo ocorreu a ação verbal e ela não puder ser reconhecida pelo contexto, pode o verbo vir acompanhado de partículas que especifiquem o tempo verbal, partículas essas que veremos em lições futuras.

I


Bibliografia: Simbolismo Verbal Primitivo, Max H. Boudin, 1963

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil, Pe. José de Anchieta, Imprensa Nacional, 1933

Método Moderno de Tupi Antigo, Eduardo de Almeida Navarro, Editora Vozes, 2ª edição, 1999

Adverbios de Lugar

(Observação: Foi mantido aqui o sistema ortográfico original do autor, sendo por isso diferente do sistema utilizado aqui até então.)

AONDE?, EM QUE LUGAR? - umápe? 1. umámepe?
PARA ONDE? - mamópe?
DONDE VEM? - mamó suípe? 1. umá suípe?
POR ONDE? - mamorupípe? 1. umarupípe?
5- AQUI - iké.
AÍ OU LÁ, AONDE DIZEIS - aépe.
AÍ MESMO - akuéipe.
MAIS PARA LÁ - kimongoty (F.- kibõ, kibongoty, mais para cá; amõ, amongoty, mais para lá; kekoty, mais para outra banda).
MAIS PARA A OUTRA BANDA - kekóty
PARA A BANDA DE CÁ - kokety (deve ser kokoty)
DIANTE - tenondé, como xe renondé, diante de mim
EM ALTO - ybaté (F.- em alto, ibaté).
DEBAIXO - guyrpe, 1. guyrbo.
EM RIBA - áribo.
PARA CÁ - kokoty.
PARA ESTA BANDA - koekoty.
MAIS PARA A PARTE DE CÁ - kybongoty
MAIS PARA A PARTE DE LÁ - amongoty

Abreviatura utilizada: F.- Pe. Luiz Figueira, Arte de Gramática da Língua Brasílica. Rio, 1880

Demonstrativos

Os demonstrativos distinguem-se conforme a proximidade e a visibilidade:

este, esta, estes, estas, isto; eis aqui, eis que já:

Para coisa ou ação que se esteja vendo: Kó ou Ikó
Para coisa ou ação que se esteja vendo ou não: ã (antes de consoante), ang(antes de vogal), anga; iã, ianga, iang

esse, -a, -es, -as, -o; aquele, -a, -es, -as, -o; eis aí ou lá:

Para o que se está vendo:
kûeîa, kûeî, kûé, ebo-kûeîa, ebo-kûeî, ebo-kûé, ebo-uinga, ebo-uĩ, eb-uĩ, e-guĩ, euĩ, uĩ

Para o que não se está vendo:
a-îpó, a-é, a-kó, a-kûeîa, a-kûeî, a-kûé

Note que o prefixo a- nos demonstrativos refere-se ao que se está fora de vista ebo- para o que está próximo da pessoa com quem se fala, correspondente ao esse.

Quando forem pronomes substantivos, os demonstrativos geralmente vêm com -A final
(akûeî-a, ebokûe-a, 'ang-a, iang-a) ou com o sufixo -BAE (kó-bae, kûeî-bae, aîpó-bae, etc.). Os que terminam em vogal podem também aparecer sem sufixo quando forem substantivos.

- Todos os demonstrativos podem ser seguidos de aé "mesmo":
kó aé: este mesmo akó aé: aquele mesmo

- O substantivo, quando expresso, vem depois do demonstrativo:
kó abá o-só, aîpó-bae o-ur: este homem foi, aquele veio.


Bibliografia: Curso de Tupi Antigo, Pe. A. Lemos Barbosa

Possessivos

Os adjetivos possessivos em Tupi comportam-se geralmente, como os possessivos de nossa língua. Não há em Tupi os pronomes possessivos:

Xe: meu, minha. meus, minhas
Nde: teu, tua, teus, tuas---------
I (relativo): seu, sua, seus, suas; dele, dela, deles, delas
O (reflexivo): seu, sua, seus, suas; dele, dela, deles, delas
Îandé (inclusivo): nosso, nossa, nossos, nossas
Oré (exclusivo): nosso, nossa, nossos, nossas
Pe: vosso, vossa, vossos, vossas
Asé: da gente----------------------

- Oré é utilizado quando "nosso" não inclui a pessoa ou as pessoas com quem se fala. Nos casos em que a pessoa ou pessoas estão incluídos usa-se îandé.

Îandé oka: nossa casa (dizem entre si os donos da casa).
Oré oka: nossa casa (diz um ou vários donos da canoa a um ou mais que não são)

- Usa-se o quando "seu", "sua", "seus", "suas" referem-se ao sujeito".

Afukaká destruiu sua canoa (do Afukaká mesmo): o ygara
Afukaká destruiu sua canoa (de Izarari): i ygara


Regras de Pronúncia

- I, antes de outro i ou de y, recebe um î eufônico:

I-î ygara: sua canoa
I-î r-uba: seu pai


- O s que se segue ao i, passa para x

sy: mãe i xy: a sua mãe
sama: corda i xama: a sua corda


VOCABULÁRIO
ygara: canoa
r-uba: pai
oka: casa

Qualificativos

"De uma raíz simples e bem objetiva, o tupi-guarani chega a formar um vocabulário muito extenso, rico em nuanças e significados."- Max H. Bodin, Simbolismo verbal primitivo

Os adjetivos qualificativos são invariáveis. Pospõem-se ao substantivo. Este, se é oxítono, não sofre alteração:
itá: pedra tinga: branco itá tinga: pedra branca
y: rio puku: comprido y puku: rio comprido

Se é paroxítono, - antes de vogal, perde a última vogal; antes de consoante ou semivogal, perde a última sílaba:
taba: aldeia ybaté: alto tab' ybaté: aldeia alta
ybaka: céu piranga: vermelho ybá' piranga: céu vermelho
aoba: veste tinga: branco aó' tinga: veste branca

Nos paroxítonos dissilábicos, é rara a perda da sílaba:
ara: dia panema: aziago ara panema: dia aziago
aba*: cabelo tinga: branco aba tinga ou á' tinga: cabelo branco

*Cuidado para não confundir com abá: homem, índio

O uso de hífen para separar os componentes de uma palavra não é obrigatório, mas em vários casos pode ser uma ferramenta útil para que o leitor identifique mais facilmente os elementos componentes de uma palavra. exemplo:

itá tinga, itatinga ou itá-tinga



Bibliografia: Curso de Tupi Antigo, Pe. A. Lemos Barbosa (Adaptado)

Substantivo

O substantivo tupi pode ser monossilábico ou polissilábico. Termina sempre em vogal tônica ou em -a átono. Pode ser simples, composto, derivado.

Em tupi não há artigos nem definidos nem indefinidos

Gênero: Não há gênero gramatical. Somente prende-se ao gênero tudo o que gera vida: mulher ou fêmea, homem ou macho, embora o sexo não tenha repercussão alguma, do ponto de vista gramatical, quer nos adjetivos, quer nos pronomes ou nos verbos.

Masculino Absoluto
t-uba: pai
mena: marido
abá: índio, homem

Feminino Absoluto
sy: mãe
t-e-mi-r-ekó: mulher
kunhã: índia, mulher

Os nomes de animais sevem para os dois sexos. Mas sendo necessário esclarecer por palavras colocadas logo após o substantivo: apyaba (m.) e kunhã (f.) (para seres humanos), s-akûãî-bae (m.) e kunhã (f.) (para animais):

tapiira: anta tapiira s-akûãî-bae: anta macho
tapiira kunhã: anta fêmea

mboîa: cobra mboîa s-akûãî-bae: cobra macho
mboîa kunhã: cobra fêmea

Número: Não há número gramatical. As palavras correspondem igualmente ao nosso singular e ao plural:

t-esá-y lágrima, lágrimas; ypeka pato, patos

O sentido colher-se-á no contexto da frase.

No tupi colonial, passou-se a empregar etá "muitos"para realçar a pluralidade (com a perda do a final nos paroxítonos):

pirá: peixe pirá etá: peixes
paka: paca pak'etá: pacas

Não se deve abusar desse indefinido já que esse não era seu primitivo sentido, principalmente se o plural já se subentende:

mosapyr pirá: três peixes (NUNCA mosapyr pirá etá)

Substantivos abstratos: No tupi não havia substantivos abstratos, porém com a permanência dos jesuítas houve uma tendência a substantivar os adjetivos como os infinitivos:

poranga: belo= beleza
osanga (t): paciente= paciência
nhe-mo-yrõ: irar-se= ira

Bibliografia: Pe. A. Lemos Barbosa, Curso de Tupi Antigo;
Max H. Boudin, O Simbolismo Verbal Primitivo

Alfabeto

Os índios não tinham escrita, por isso cada gramático ou estudioso europeu procurou transcrever o tupi no alfabeto de sua língua nativa, fazendo as devidas adaptações, portanto não é de se estranhar que uma palavra em tupi possa ser escrita de várias formas, por exemplo: Ygûasu, Yguassú, Yguaçú, Yguasú.
O alfabeto que utilizaremos aqui será o utilizado pelo Padre A. Lemos Barbosa em seu livro Curso de Tupi Antigo:



PRONÚNCIA

-O s soa como o ç português, não como o z:
a-só (pronuncia-se açó): eu fui

-O r é sempre brando, mesmo no início das palavras:
roy: frio ( o r soa como em arara)

-O x é como o de "xadrez"

-O h é aspirado, como no inglês. É muito freqüente no guarani, já que em tupi só aparece em três ou quatro palavras.

-O g nunca pronuncia-se como j, mesmo antes de e, i ou y:
mo-ingé (pronuncia-se moingué, não moinjé): introduzir

--O d no início da palavra é sempre precedido de n, ainda que nos documentos antigos, esta letra não venha escrita; pode-se pronunciar só o n sem o d:
ne ou nde (pronunciar nde ou ne, nunca de): tu

-Em seguida de pausa (ponto, vírgula, etc.), b é sempre precedido de m, ainda que esta letra não figure:
baé (leia-se mbaé): coisa

-Também o g sempre pressupõe n:
gatu (pronuncia-se ngatu): bom, bem
Só se abre exceção qaundo vem seguido da semivogal û: gûasu

-O som do y não tem correspondente em português, obtém-se aproximadamente seu som colocando a língua como se estivesse tentando pronunciar o "u", mas com os lábios estendidos para pronunciar o "i".

-As outras vogais, como em português do Brasil, na pronúncia padrão.

-Nos ditongos crescentes e nos tritongos, î pronuncia-se como o y espanhol (em "ayer", "yo") ou inglês (em "yes", "beyond"), exemplo:
îasy: lua; kaîa: arder; kaîá: cajá
Alguns autores, nesses casos, escrevem j; jasy, kajá

-Nos ditongos decrescentes, î, pronuncia-se como o i português:
kaî (pronuncia-se kái): pegar fogo

-Utiliza-se do hífen para separar os elementos da palavra, mas na leitura não se faz caso dele.



Referência Bibliográfica: Pe. A. Lemos Barbosa, Curso de Tupi Antigo